Solar Project - The House Of S. Phrenia - Progbrasil

Solar Project

Alemanha




Titulo: The House Of S. Phrenia
Ano de Lançamento: 1995
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 10/05/08 Nota: 9.0

 

Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo

A cena progressiva alemã dos anos noventa não foi tão fértil quanto a de outros países, principalmente Itália, Inglaterra, EUA e Suécia, mas se teve alguma banda que manteve a sólida tradição germânica adquirida no áureo período setentista, essa atende pelo nome de Solar Project. Marcada por uma formação numerosa, o grupo manteve seus principais nomes e atributos ao longo dos anos e continua na ativa a pleno vapor, com seu último álbum "Chromagnitude", lançado em 2007.

Em "The House Of S. Phrenia", seu terceiro disco de estúdio e para a maioria de seus admiradores, o melhor, o grupo desenvolve um tema conceitual pautado nos andares de um determinado edifício, extremamente psicodélico e onírico. À medida que os andares vão se sucedendo por intermédio do elevador, novas e variadas situações vão acontecendo, com o surgimento dos personagens que compõem a história e quanto mais distante do chão, maior é a sensação de liberdade musical imposta pelo Solar Project, até desaguar no clímax de "F. Power", um dos grandes momentos desse álbum, com a celebração da chegada ao paraíso marcado pela beleza das flores. Aqui a banda presta uma justa homenagem à geração flower power, que através da sua cultura e arte influenciou milhares de jovens mundo afora nos anos sessenta e setenta e mostrando que dentre todos os tenebrosos andares, o melhor realmente é cutlivar os preceitos da própria geração flower power.

A formação em "The House Of S. Phrenia" é vasta, contando com a participação de diversos músicos: Det Maurer, Andre Teikhoff, Stefan Mageney, Anja Kiechle, Olaf Kobbe, Holger Von Bruch, Aneli Claus, Lorena Espinoza e Allison Blizzard - todos nos vocais, Christian Razborsek - guitarras e vocais, Sonja Mischor - flauta e vocais, Klaus Hoffmann - cítara e vocais, Jörg Weweries - baixo, Andreas Bracht - baixo, Tim Isfort - contrabaixo, Wolfgang Döhr - guitarra, Hans Lammert - piano, Jürgen Wimpelberg - hammond, além do trio principal, presente em todas as músicas; Volker Janacek - bateria e vocais, Robert Valet - teclados, guitarra e vocais e Peter Terhoeven - guitarra e vocais. Pela quantidade de vocalistas, pode-se imaginar o quanto o grupo explora esse recurso, que sempre surte um efeito muito positivo e vibrante na musicalidade do Solar Project, contrastando com os momentos de melancolia, intimamente relacionados à bela guitarra de Terhoeven, outro discípulo de David Gilmour que possui um feeling matador.

O álbum se inicia com "J. Anitor", onde a ascensorista prenuncia a chegada ao apartamento de Mr. Anitor e uma levada psicodélica toma corpo ao fundo, mas a viagem está apenas começando e no segundo andar o grupo mostra seu perfil de vez com "S. Phrenia", corruptela para esquizofrenia, pois nesse andar a personagem extravasa por completo suas mágoas e decepções por viver num mundo tão cheio de problemas e complicações - "Radioactivity corrodes man, cancer spreads and people slowly die". A música é muito envolvente tendo três pontos a destacar: os vocais de Det Maurer são perfeitos, uma aula de como se cantar rock - precisão, afinação e alma; o refrão entoado pelos backing vocals femininos - "schizophrenia" são de arrepiar e por fim, o solo espetacular de guitarra de Peter Terhoeven nos minutos finais, de rasgar a alma com timbre semelhante ao de David Gilmour, ficando clara a influência do guitarrista na sonoridade do grupo e consequentemente do Pink Floyd. Vale ressaltar a qualidade das letras do grupo, são um dos melhores de sua geração nesse quesito, provavelmente tendo como inspiração máxima o mestre Roger Waters.

Em "R. Fire" os belos solos de guitarra continuam dando as cartas, aqui divididos entre Peter Terhoeven e Wolfagan Döhr, a entrada da cítara fazendo uma base muito interessante prenuncia o teor cosmopolita do grupo, abordando diversos ritmos, com destaques para passagens cantadas em espanhol por Lorena Espinoza. Essa acentuação holística do grupo ficaria mais acentuada no trabalho posterior, intitulado "In Time". A influência de Roger Waters não fica apenas restrita às letras, a sonoridade do líder do Pink Floyd fica latente no quarto andar com "G.Mania", outra corruptela irônica para a obsessão humana em mapear o genoma, em fazer experiências científicas que muitas vezes alteram a composição natural dos seres vivos em busca de alimentos perfeitos ou curas milagrosas e quase sempre com efeitos colaterias catastróficos. A música se desenvolve com um blues rock, vocais femininos e narrativas em off, características marcantes na carreira solo de Waters.

Por se tratar de uma banda alemã com caracterísitcas ligadas ao space rock, obviamente que não poderia deixar de beber na fonte dos maiores astros alemães dessa cena. "C.Chaos" possui acentuação voltada para o Eloy, fase "Time To Turn", devido à base de baixo e mais notadamente a tecladeira espetacular de Robert Valet. Talvez a melhor letra do disco esteja aqui e vale ressaltar uma passagem: "The Yankees start the napalm show/You are a witness of the apocalypse now/Colonel Kurtz ponders on time and love/Eschatology - you get enough/But then - the sun comes back/The return of Big Mac/This is the next heart attack/Back to the final part".

Se "The House Of S. Phrenia" já estava muito bom, diria que o promontório de tal obra chega com a sequência final e as músicas "G.Arret", "S. Phrenia II" e "F. Power", todas repletas de variações, a primeira com um solo de guitarra muito bonito, a segunda com dedilhados de violão que impõem a dramaticidade exata para os vocais lamentosos de Anja Kiechle, mas o destaque absoluto fica mesmo para a passagem monumental da flauta de Sonja Mischor, fazendo-me perguntar, porque a banda não explorou mais esse recurso. Ao fim dessa múscia temos a seguinte anunciação: "the only answer is Flower Power" e segue o ápice do disco, com uma suíte arrasadora composta por três movimentos que seguem do oitavo ao décimo e último andar com duração aproximada de vinte e dois minutos. Aqui é muito difícil ficar parado e não cantar junto com o grupo o envolvente refrão: "We are in paradise, in nature/In the kingdom of flowers/Flower power, you make it true", Robert Valet mostra-se extremamente inspirado nos teclados e pilota um hammond com grande competência. Interessante que quando os membros do Solar Project resolveram reinventar o Abacus, no trabalho "Fire Behind Bars", banda alemã clássica dos anos setenta, Robert Valet teve uma presença muito burocrática e mal tocou teclados, deixando-os a cargo Jürgen Wimpelberg e o resultado final ficou muito aquém dos discos do Solar Project, apesar da grande similaridade entre ambos. Outra curiosidade é o longo intervalo de silêncio ao término do disco, provavelmente uma alusão crítica a tantas mazelas que existem em nosso planeta, com a consciência de que praticamente todas são consequência das desventuras humanas.

"The House Of S. Phrenia" foi lançado no Brasil e já está com edição esgoatada, entrando para o rol dos discos cults em terras tupiniquins e para aqueles que curtem Pink Floyd, Roger Waters, Abacus e Eloy trata-se de um belo aperitivo, mas pode ser servido como prato principal sem maiores riscos e com satisfação garantida. Comprove!
Progbrasil