Artigos e Documentários

A FORNADA PREMIADA DA PADARIA MARCONI (2005-09-18)

Alex Saba


(publicado originalmente no site Baguete)

Parte 1 - A Pré História

Semana passada eu estava tão magoado, que deixei passar meu próprio aniversário. A idéia inicial era (e ainda é) comemora-lo com uma pequena série de colunas dedicadas às minhas bandas favoritas e (por razões inexplicadas) jamais comentadas aqui. Mas nunca é tarde. Portanto aqui vamos nós com o som italiano do PREMIATA FORNERIA MARCONI.

PFM (para os íntimos) em uma tradução liberal seria o título lá de cima. Nos idos de 70, quando tínhamos pouca informação sobre nossos artistas favoritos, havia um boato de que a origem do nome era porque um padeiro fazia o pão enquanto tocava flauta. Era difícil imaginar isso, mas...éramos jovens...e ingênuos. Mas a padaria existe (ainda hoje) apesar de ter mudado de FORNERIA MARCONI para PASTICCERIA MARCONI e fica em CHIARI (na província de BESCIA – precisamente na Via Mazzini, 1, Tel. +39.30.711112), que vem a ser a cidade natal de um dos integrantes: MAURO PAGANI (flauta, violino e letras). Daí a origem do boato.

Comecei a ouvir PFM graças a meu primo Geraldo, que foi de férias aos EUA e voltou com “trocentos” LPs, prá desespero do pai, que pagou uma boa grana em excesso de bagagem. Mas valeu a pena, por que ficamos conhecendo o PFM. Não me lembro porque ele comprou o PHOTOS OF GHOSTS (primeiro LP americano), mas sei que passado algum tempo ele me vendeu o disco prá comprar outro, mais do agrado dele. Não que ele não tenha gostado, mas o estilo dele era (e acho que ainda é) mais para VAN MORRISON, BAD FINGER, THE BAND, etc do que progressivo.

Em todo o caso, fiquei com o LP e daí prá frente (apesar da falta de grana) corria atrás de tudo o que eles lançavam. O som “quase” delicado do rock progressivo italiano, sempre me agradou. Também pudera, eles são especialistas em uma vertente do rock progressivo mais “camerística” ou barroca. A fusão da música clássica no rock italiano não tem a grandiloqüência do progressivo inglês, formando uma categoria à parte. Não tenho notícia de um grupo de heavy metal italiano, mas...tudo é possível.

O PFM começou no final da década de 60, com uma banda que fazia COVERS de sucessos americanos (chamada I QUELLI) que fez, por exemplo, uma versão de "RAIN AND TEARS", do APHRODITE’S CHILD (banda grega do VANGELIS). O único LP deles, foi lançado no Brasil (em 1970) e em CD na Itália há poucos anos. A VINYL MAGIC (www.itimpresa.mi.it/vinylmgc/) possui alguns compactos (lembram disso?) usados para venda. São raros e caros.



QUELLI era um quarteto integrado por FRANCO MUSSIDA (guitarra e vocal), FRANZ DI CIOCCIO (bateria), FLAVIO PREMOLI (teclados) e GIORGIO PIAZZA (baixo). Na capa, aparece um quinto integrante, mas não tenho indicação de quem seja. Na Itália (e no mundo) nessa época, o sucesso estava atrelado a versões e “a um vocalista rebolativo que chamasse a atenção das fãs” (palavras do DI CICCIO), mas o I QUELLI era uma exceção. Estavam preocupados com o conteúdo musical do que tocavam (e não tinham um vocalista rebolativo). Como resultado disso, freqüentavam muitos estúdios de gravação acompanhando cantores como LUCIO BATTISTI, MINA, CELENTANO e FABRIZIO DE ANDRE. Além disso, eram chamados também para fazerem as gravações das bases de outras bandas italianas, como EQUIPE 84, DIK DIK e CAMALEONTI.

Durante uma noite em um clube perto de BESCIA, um amigo de FRANZ falou de um músico que estava tocando flauta e violino mais para o rock do que o clássico. FRANZ interessou-se, mas não conseguia encontrar-se com MAURO PAGANI e conta que o contato telefônico entre eles foi assim: “Eu tenho cabelos longos, uma camisa branca e jeans velhos”, FRNAZ perguntou: “Cabelo longo até os ombros, como Jesus Cristo?”. Apesar dessa ridícula conversa, na época usar cabelo longo era sinal de fazer parte da nova musica UNDERGROUND. Era o verão de 1969. Entre o I QUELLI e MAURO, quando FRANZ o viu tocando no “I DALTON”, ficou claro que o queria tocando com eles. Continuavam fazendo as apresentações habituais, mas queriam mudar o repertório, o próprio gênero musical ao qual estavam presos e integrar MAURO na formação.

O som do grupo começou a mudar lentamente. As músicas foram se tornando cada vez menos dançantes a medida que os solos foram ficando maiores. Buscaram material nas “novas” bandas: CHICAGO, KING CRIMSON, JETHRO TULL, EXCEPSION e FLOCK, com mais espaço para arranjos, virtuosismo e improvisação.

Queriam uma completa separação do passado, do qual eram bem conhecidos, mas em um estilo completamente diferente. O nome tinha que ser bem diferente do que estava sendo usado na época, como nome de animais. Depois de uma manhã inteira imaginando hipóteses, saíram com dois nomes: ISOTTA FRASCHINI e FORNERIA MARCONI. A primeira uma marca de automóveis e a segunda A padaria. Mas a gravadora foi contra, dizendo que parecia mais o nome de uma fábrica do que de um grupo musical. Mas a idéia de uma fábrica com prestígio, parecia bons auspícios para alguém como eles que estavam acostumados a “fabricar” som para outros artistas. Quando optaram por FORNERIA MARCONI achavam que faltava algo. Um amigo e músico ALESSANDRO COLOMBINI, fez a sugestão de acrescentarem o PREMIATA, como forma de auto-gratificação e também de “certificar” a “qualidade” da “fábrica” (tudo com aspas mesmo). O nome ficou grande, mas a filosofia da banda era: “quanto mais difícil for lembrar o nome da banda, mais difícil será esquece-lo!”. (Virou moda nomes grandes de banda na Itália depois disso – Se alguém mencionar o LE ORME só prá me gozar, eu respondo com IL TRONO DEL MIRACULO, IL CAMPO DI MARTE e outros tantos que guardo “na manga”).



Parte 2 – FAMA E GLÓRIA

A essa altura, todos os ingredientes estavam lá: desejo, repertório e nome. Os dois produtores do QUELLI (FRANCO MANONE e FRANCO SANAVINO) já antecipavam o fim dos bailes. Esses produtores “provincianos” tornaram-se produtores internacionais dos mais importantes na época. MAMONE propôs ser o produtor do PFM em troca de que eles tocassem na abertura dos shows que ele promovesse. PFM começou com PROCOL HARUM, DEEP PURPLE (o maior nome do rock no momento) e YES. A idéia era arriscada, mas eles tiveram coragem e sangue frio para encara-la.

O primeiro show foi em BOLOGNA e ninguém jamais havia ouvido falar nesses cinco caras que iam abrir para o PURPLE. A audiência aguardando por IAN GILLAN (vocalista do PURPLE) e Cia, estava tão excitada e barulhenta que os organizadores sequer anunciaram o PFM porque o nome italiano era muito longo e absurdo.

Conta FRANZ DI CICCIO: “nós começamos no escuro e surpreendendo a audiência com THE 21st CENTURY SCHIZOID MAN do KING CRIMSON, a peça de abertura do nosso repertório. Depois de vários minutos de espanto, no qual a platéia parecia um mar de silêncio de cabeças horrorizadas (...) mas tudo correu bem e terminamos o show sob aplausos.”

A platéia queria saber quem era aquela “banda Inglesa” que abriu o concerto. “Este é o PREMIATA FORNERIA MARCONI”, disse SANAVINO - aliviado – ao fim da apresentação, “eles são italianos e vocês ouvirão falar deles”.

No verão de 1971 em VIAREGGIO aconteceu o primeiro FESTIVAL OF AVANT-GARDE AND NEW MOVEMENT, o mais importante evento do ano, onde a nova música italiana tornava-se realidade. Para tal apresentação eles precisavam de uma música inédita e FRANCO MUSSIDA (violão e guitarra), o compositor nos dias do I QUELLI, tinha uma música composta na VAN de Milão para Turim: LA CARROZZA DI HANS. E no dia seguinte fizeram o arranjo. No festival em Viareggio, todos foram surpreendidos por uma apresentação memorável. Depois da introdução eletrificada, diante do espanto de todos, MUSSIDA iniciou uma parte de violão clássico, que levou a audiência a voar na fábula de HANS, o mercador de sonhos. Foi um triunfo e PFM ganhou o festival.




A formação do PFM era: FRANZ DI CICCIO (bateria e percussão), GIORGIO DI PIAZZA (baixo), FLAVIO PREMOLI (teclados), FRANCO MUSSIDA (violão, guitarra e voz) e MAURO PAGANI (violino e flautas) e com ela gravaram o primeiro LP, STORIA DI UM MINUTO (também chamado erroneamente de ENTRATA, porque na contra capa havia esta palavra escrita), lançado somente na Itália, em janeiro de 1972. O disco continha a bela LA CARROZZA DI HANS e era uma indicação de que o PFM vinha com tudo. Tão grande foi a aceitação da banda pelo público italiano, que no mesmo ano viriam a gravar o segundo LP (PER UN AMICO).



Sabe-se lá como (se alguém souber me avise) o conjunto chegou ao conhecimento do poeta PETER SINFIELD, letrista do KING CRIMSON. Ele levou a banda para gravar na Inglaterra, em inglês, escrevendo as versões para as letras das músicas.


Foi em outubro de 1972, que o PFM entrou nos estúdios da MANTICORE, selo dirigido por GREG LAKE (então no ELP). O disco só saiu em 1973, com o nome PHOTOS OF GHOSTS e trazia versões inglês das músicas dos dois primeiros discos. Em verdade a maioria das músicas era do segundo álbum italiano, do primeiro estava somente LA FIESTA, rebatizada como CELEBRATION e carro chefe do grupo.


A partir daí, os discos saíam na Itália e na Inglaterra (com versões em inglês), pelo menos até o final da década. Isso os tornou conhecidos no mundo todo, contribuindo muito para sua evolução, pois nada devia quando comparado aos progressivos ingleses.

O disco de 1974, L’ISOLA DI NIENTE saiu na Inglaterra como THE WORLD BECAME THE WORLD e foi em sua maior parte gravado em Londres, de novembro de 1973 a fevereiro de 1974. Interessante da mixagem deste álbum, que abre com um magnífico coral é que a voz está no mesmo nível (de volume) dos outros instrumentos, mantendo a preocupação do grupo de não desprezar a parte instrumental. Aqui houve uma mudança na formação, saindo GIORGIO PIAZZA e entrando PATRICK DJIVAS no baixo. O grupo ganhou o que precisava. PATRICK entrosava-se perfeitamente com a bateria de FRANZ e estava mais dentro do “espírito” do PFM do que o apagado GIORGIO, que era “apenas” competente no que fazia. PATRICK também era um solista e colocava seu instrumento no mesmo nível dos demais.



Não havia diferença no repertório desses dois álbuns, salvo pelas letras em inglês. No italiano estava DULCISSIMA MARIA (JUST LOOK AWAY no inglês) que viria a ser gravada por RENATO RUSSO no seu CD de músicas italianas. As capas são quase iguais, diferença apenas na cor do fundo, verde para o italiano e azul para o inglês. As letras contavam histórias completamente diferentes, com as melodias idênticas. A impressão que se tem ouvindo ambos os discos é que apenas os vocais foram regravados.

[COVER – COOK]

Os lançamentos em inglês permitiram que eles alcançassem o mercado norte-americano, contribuindo para este sucesso o grande número de imigrantes italianos (e principalmente seus filhos). Isso fica claro no álbum PFM LIVE IN USA (lançado lá como COOK) gravado em agosto de 1974, com uma apresentação cheia de energia e virtuosismo, com destaque para o solo de violino de MAURO interpretando a abertura de WILLIAN TELL e para CELEBRATION, com solos de todos e arranjo completamente diferente das versões anteriores.


Parte 3 – ASCENSÃO E QUEDA


Alguns críticos consideraram um erro fatal a entrada em 1975, do vocalista BERNARDO LANZETTI no PFM. MANTOVARI chega a dizer que a entrada de BERNARDO “trouxe um grande desprestígio ao grupo”. BL cantava no ACQUA FRAGILE, grupo produzido pela turma do PFM. A semelhança de LANZETTI com PETER GABRIEL, realmente me incomodou um pouco quando ouvi o LP CHOCOLATE KINGS – 1976, o primeiro com BL, mas as ótimas músicas acabaram suplantando o vocal. O disco não foi tão bem aceito quanto merecia. Na Itália, por ser todo em inglês, houve um afastamento dos fãs. Do outro lado do Atlântico, a capa americana (uma bandeira americana como embalagem de um chocolate) não foi bem recebida pelo público.
[CAPA – B38-cki] [CAPA – B38-cke]
Apesar da fraca aceitação (o disco ainda hoje é bom e) o PFM ainda tinha prestígio. Problema mesmo foi o seguinte: JET LAG, lançado pela gravadora ELEKTRA em 1977. Para muitos a queda foi ruidosa. Para outros (como eu) havia um pequeno problema: a ausência do MAURO PAGANI. Em seu lugar entrou o violinista americano (californiano) GREGORY BLOCK, ex-GATO BARBIERI e ex-MARK ALMOND BAND. Foi a fase mais jazz-rock. Também pudera, os amigos na época eram; FRANK ZAPPA, JACO PASTORIUS, BILLY COBHAM e LENNY WHITE dentre outros.
[CAPA – B38-jli] [CAPA – B38-jle]
Talvez todo o problema desse álbum, tenha ocorrido porque a música progressiva estava numa fase que podemos chamar de “involutiva”. Surgia também o movimento PUNK. Com isso tudo o disco foi bem aceito pela crítica e pela comunidade californiana. Inclusive sua capa foi considerada a melhor capa do ano. Selecionei alguns trechos da música CERCOL LA LINGUA, a única cantada em italiano, mas que abre com um belo solo de GREG e o lindo baixo fretless (sem traste) de PATRICK DJIVAS está mais presente que nunca. Note como o vibrato na voz de LANZETTI realmente procura imitar GABRIEL.
[AUDIO – B38-PFM1]
Depois desse veio PASSPARTÙ, onde eles mudaram outra vez, voltando a cantar em italiano e tornando a música mais acústica. Sai GREGORY, que não podia viver na Itália e entram ROBERTO COLOMBO (teclados) e ROBERTO HALIFFI (percussão), além de várias participações especiais. O disco foi um fracasso e LANZETTI que estava pouco satisfeito com a banda, aproveitou e saiu para tentar carreira solo.
[CAPA – B38-passpartu] [CAPA – B38-suonare]
Antes de um próximo álbum, foram a banda de apoio do cantor italiano FABRIZZIO DE ANDRE (sem os dois ROBERTO e acrescidos do multi instrumentista LUCIO FABRI). Nessa condição, lançaram três álbuns: LA BUONA NOVELLA (de estúdio) e IN CONCERTO (volumes I e II – ao vivo). Isso lhes deu uma nova perspectiva sobre sua própria música, completamente refletido no álbum seguinte: SUONARE SUONARE. É um álbum de canções melodiosas e bem italiano, como antecipa a própria capa. Muito agradável, fazendo lembrar o PFM de outros tempos. Coloquei a faixa título aqui, por acha-la (junto com TOPOLINO) a mais significativa do disco, abrindo com o belo piano de FLAVIO e a voz de FRANZ.

Com FRANZ DI CIOCCIO nos vocais, passam a contar com a presença de WALTER CALLONI como segundo baterista nos shows.
[CAPA – B38-como_ti_va] [CAPA – B38-performance]
Apesar do sucesso do disco, FLAVIO PREMOLI saiu do grupo e no álbum seguinte, LUCIO passou a tocar também teclados. COME TI VA IN RIVA ALLA CITTÀ é um disco urbano, com menos violinos, muitas guitarras e alguns teclados. Dito isso, posso dizer que é o disco mais comercial que eles já haviam feito até então. O tempo mostrou que eu havia sido muito duro com eles, pois algumas músicas desse álbum, são bem ouvidas até hoje. Mas o mesmo aconteceu com a crítica na época, que dividiu-se e não conseguia explicar o sucesso dos shows. O álbum ao vivo PERFORMANCE é excelente, mostrando perfeitamente a “fúria” de FRANZ nos vocais e bateria. A sua volta estavam uma sessão rítmica poderosa, um virtuoso e um polivalente. Minha primeira audição, foi de total curiosidade. Precisava ouvir, como eles tocariam peças típicas como IL BANCHETO, que era um longo solo de piano. Ao ouvir MUSSIDA E FABRI nas guitarras compreendi que esse era o velho e bom PFM.

Mas as coisas não seriam tão fáceis. PFM? PFM! foi o álbum seguinte e não sei o motivo do título. Parece que havia uma forte crise de identidade entre eles. Esse é daqueles álbuns que se faz questão de esquecer (eu como fã ainda lembro e recomendo algumas músicas). É o único álbum não lançado em CD e por isso mesmo um dos mais cobiçados em vinil pelos colecionadores.
[CAPA – B38-pfm_pfm] [CAPA – B38-miss_baker]
Mas não parece nem um pouco com PFM. Era o fim. 

Não! Sempre há um último suspiro ... e ele foi dado em MISS BAKER, dedicado à atriz JOSEPHINE BAKER. Uma faixa escapa (talvez eu esteja sendo rigoroso, mas...), COLAZIONE A DISNEYLAND é instrumental e toda feita em cima do violão de FRANCO, mas não foi o bastante, pois o resto está mais para PHIL COLLINS pós GENESIS, com aquele naipe de metais EARTH WIND & FIRE que virou sua marca registrada. Estranhamente, ao ler com mais atenção o encarte desse disco, achei o nome de MAURO PAGANI, dando a idéia da capa e produzindo os vocais.

Parecia um triste fim para a banda que foi a trilha sonora da minha adolescência. Só me restava ouvir os discos antigos e me deliciar com as construções elaboradas e clássicas do trabalho. Era como se tivesse perdido um amigo e estivesse folheando um velho álbum de retratos.


Parte 4 – PHOENIX

Quando comprei MISS BAKER, queria porque queria ouvir o velho e bom PFM, mas nada. O que podia eu fazer? Solitário (?) fã do PFM aqui no Brasil...De repente descubro uma lista de discussão (PFM MAIL LIST [email protected]) sobre o PFM. Foi aqui que eu “conheci” TATSUROU UEDA, bom amigo que me ajudou com a tradução do encarte da caixa de 4 CDs 10 ANNI LIVE.

Prá quem não sabia, já antecipei o suspense. TATSUROU me avisou pela lista do lançamento da caixa. Demorei um pouco prá consegui-la, porque as poucas que chegavam logo sumiam. Cláudio da RENAISSANCE guardou uma e foi o único jeito. Antes de falar da caixa, alguns comentários ou lembretes: essa caixa saiu originalmente na Itália com o formato de dois CDs de altura e no Japão, naquelas caixas duplas (no caso quádrupla) e em quatro CDs separados, que é uma opção interessante para os não fanáticos. Mas voltemos a ela.

A caixa traz a retrospectiva da carreira deles, com faixas selecionadas e comentadas pelo próprio FRANZ DI CIOCCIO. Imperdível para qualquer fã. Lá está a versão para o clássico do KING CRIMSON (21TH CENTURY SCHIZOID MAN) ao vivo. Todos os 4 CDs trazem material de concertos. O primeiro chama-se L’INIZIO cobre os anos de 1971-1972 em show na Itália. L’ESPERIENZA AMERICANA é o segundo (1973-1974) e traz os shows da tourne THE WORLD BECAME THE WORLD, com várias faixas inéditas de (bons) solos (teclado, violino, bateria,...). O terceiro CD que pega os anos de 1975 e 1976 chama-se IN GIRO PER IL MONDO, com os shows da era CHOCOLATE KINGS. Por fim, o CD 4 é dividido em dois: CONTAMINAZIONI (1977-1978) com os concertos de JET LAG e PASSPARTÙ e VERSO UN NUOVO ROCK (1980-1981), que traz faixas da tourne PERFORMANCE.

Mas não é que um belo dia, alguém me manda um email com apenas duas palavras: PFM – ULISSE. Era 1997 e era senha do novo trabalho da banda. FRANZ, PATRICK, FRANCO e FLAVIO estavam de volta. A faixa de abertura, é o mais puro PFM anos 90. Outros grandes momentos estão por todo o disco, como a bela SEI, ou IL MIO NOME É NESSUNO, da qual você ouve um trecho aqui.

[CAPA - B39-ulisse.jpg] [AUDIO – B39-MioNome.ra]

O que é fantástico nesse disco, é que os quatro instrumentistas voltaram com toda a corda. Há belos momentos de todos, mostrando que apesar da distância dos holofotes, não perderam sua técnica. O próprio FRANZ, que continua nos vocais, está muito melhor do que nos discos anteriores. FRANCO é aquilo de sempre: muita técnica, mas ampliando seus timbres com o uso de outros instrumentos de cordas. FLAVIO é o bom gosto de sempre, seja ao piano, ao órgão ou nos synths. Não há exageros. PATRICK continua preciso e criativo. Aliás, a idéia do retorno foi dele, que tendo se mudado para uma cidade mais próxima dos outros, deflagrou o bem-vindo retorno. Faltou PAGANI? Os quatro conseguiram fazer um disco em que não se sente a falta do violinista e flautista MAURO PAGANI, mas ninguém sabe o que seria se ele estivesse lá.

E voltaram com força total. A Itália os recebeu de braços abertos e com estardalhaço. Seus shows estão sempre lotados. Vários amigos italianos da lista conseguiram assistir a vários desses shows e um deles, me mandou de presente duas fitas k7 de um desses concertos. O que eu não sabia é que um ano depois eu estaria recebendo de outro amigo da rede (o bom GAETAN), o CD duplo ao vivo com novas versões para antigos sucessos, gravado dos shows de Roma e Nápoles em 1998.

Um comentário antes de entrar no disco ao vivo: uma característica do PFM sempre foi a de não haver repetições em seus discos. Todos os discos deles, são diferentes. Impossível dizer que tal música se parece com aquela outra. Um bom desafio dos músicos a seu (fiel) público.
[CAPA - B39-IlBest.jpg]
Mas o disco ao vivo IL BEST (RTI MUSIC –1998, RTI 92002) ou WWW.PFMPFM.IT (endereço do site oficial da banda), abre com ANDARE PER ANDARE do ULISSE, seguida de LA CARROZZA DI HANS e MAESTRO DELLA VOCE, mostrando que haverá de tudo. E há mesmo. Nenhum dos discos tem aquele momento de queda da maioria dos shows, o pique vai direto, alternando momentos mais líricos com o melhor do progressivo. Sem esquecer que as versões são completamente diferentes das originais. Como aperitivo, coloquei alguns trechos do (mega) sucesso E FESTA ou CELEBRATION. Atentem para as duas baterias e o baixo!
[AUDIO – B39-EFesta.ra]
Alguém na lista do PFM comentou: “Poxa, precisaram de três músicos prá substituir o MAURO”. E é verdade. No show, além do segundo baterista (ROBERTO GUALDI), que libera FRANZ para poder cantar, também estão lá PHIL DRUMMY (sax tenor e soprano, flauta, bansoori, tinwhistles, didjeridu, cornamusa, teclados e percussão) um verdadeiro coringa como vocês podem ver pela quantidade de instrumentos e STEFANO TAVERNESE (guitarra, violão, violino e bandolim). Esses três se integram maravilhosamente bem aos quatro PFM, fazendo um show que está cada dia melhor, segundo meus felizardos amigos italianos.

O sonho acabou. E as últimas notícias são de que o grupo além dos shows, está entrando em estúdio para mais um disco e por isso não poderão vir ao BraSil em janeiro, mas não descartaram a hipótese. Quem sabe nos encontramos em um show deles por aqui?

Parte 5 – HISTÓRIA SEM FIM

Depois de tudo, o PFM continua ativo, e muito.
Lançaram SERENDIPTY, um CD e DVD ao vivo no Japão, um DVD/CD de sua reunião com PAGANI e (FINALMENTE) depois de 30 anos vieram ao Brasil.

O show do Japão tem uma grande diferença do IL BEST anterior, pois o repertório é calcado nas músicas antigas e mais amadas da banda. O PIAZZA DEL CAMPO com Pagani é a reunião que todos (inclusive eu) queriam, a volta (mesmo que temporária) do violinista, flautista e letrista.

Essa última faceta dele é a menos lembrada e isso talvez fique claro no álbum SERENDIPTY, que é o primeiro deles com vários letristas. Foi a primeira vez em que não escreveram suas próprias letras.

O álbum tem o grande mérito de mostrá-los plenamente ativos. Diferente da maioria das bandas que voltam, eles continuam lançando discos novos e não apenas vivendo do passado. Ok, o passado está nos shows. Não havia como vir ao Brasil e não tocar aquilo que os fãs esperaram 30 anos pra ouvir pessoalmente, mas em estúdio a criatividade continua. Alguns fãs podem reclamar que eles não fazem o mesmo som do STORIA DI UM MINUTO, mas isso foi há 30 anos. É absurdo pedir a um artista que continue o mesmo depois de tanto tempo.

O que eu espero de um artista é que ele continue criando. Não quero nada estagnado. Pra isso, ouço os discos antigos e se eu não gosto de um novo trabalho, é problema meu, não do artista. Claro que existe aquilo que o público quer ouvir, mas e o que o artista quer criar?

Somos os novos mecenas das artes. No passado os artistas compunham aquilo que o Rei queria ouvir, mas mesmo aí, eles eram responsáveis por surpreende-lo com novidades. Foi assim com Mozart e tantos outros.

Como ser surpreendido se queremos ouvir sempre a mesma coisa? Como ser surpreendido se o PFM tocasse como o QUELLI?

Acho muito válido fazer os shows misturando antigo e novo, mas jamais regravações de discos antigos, a não ser que essas regravações sejam feitas usando-se recursos não disponíveis na época, seja por tecnologia seja por dinheiro. A regravação de STORIA com uma sinfônica, ou uma orquestra de câmara seria muito bem vinda, mas não fundamental, não absolutamente necessária.

Aguardo com ansiedade os próximos discos, que venham com toda a criatividade que tanto me agradou quando os conheci.

Enquanto isso me delicio com os discos da carreira solo do MAURO PAGANI, mas isso é assunto pra outros comentários, colunas e/ou resenhas

Discografia do I QUELLI
Via Con Il Vento/ Ora Piangi - Compacto Dischi Ricordi (DR) SRL 10-409 .
Una Bambolina Che Fa No No No / Non Ci Saro' (I can let go) – Compacto DR SRL 10-443
Per Vivere Insieme (Happy tougeter) / La Ragazza Ta Ta Ta – Compacto DR SRL 10-459
Tornare Banbino (Hole in my shoe) / Questa Citta Senza Te - Compacto DR SRL 10-479
Mi Sentivo Strano / Dettato al Capello – Compacto DR SRL 10-502
Lacrime E Pioggia(Rain and tears) / Nuvole Gialle – CompactoDR SRL 10-525
Dietro al Sole / Quattro Pazzi – Compacto DR SRL 10-590
Quelli - LP DR SMRP 9053 (Itália, jul. 69)
LP ??? (Brasil, l970)
LP DR ORL 8185 (Itália, feb 78)
CD DR OR 8185 (Itália, 9?)


Discografia do PFM:
Impressioni Di Settembre / La Carrozza Di Hans (1971);
Storia di un Minuto (1972);
Per Un Amico (1972);
Photos of Ghosts (1973);
L'Isola di Niente (1974);
Dolcissima Maria - Via Lumiere – (compacto - 1974) ;
The World Became the World (1974);
The World Became the World / La Carrozza Di Hans - (compacto 1974);
Live in USA (Cook nos EUA) (1974)
The award winning Premiata Bakery (compilação americana – 1976);
Chocolate Kings (1976);
Chocolate Kings / Harlequin (compacto - 1975);
Jet Lag (1977); Passpartù (1978);
Fabrizio De Andre' / PFM - In Concerto Vol 1 e Vol 2 (1979);
Suonare Suonare (1980); Come Ti Va in Riva alla Città (1981);
Come Ti Va' / Chi Ha Paura della Notte? (compacto – 1981);
Performance (1982);
PFM? PFM! (1984);
Miss Baker (1987).
10 Anni Live - 1971-1981 CD - RTI Music, RTI 0217-2 (Italy, 96); bsolute live - 1971-1978 CD - King Records KICP 2829-2832 (Japan, 96);
Ulisse LP - RTI Music, RTI 1146-1, (Italy, 97) CD - RTI Music, RTI 1146-2, (Italy, 97);
www.pfmpfm.it (il Best) CD - RTI Music, RTI 92002 (Italy, 98).


BIBLIOGRAFIA:
FRANZ DI CICCIO – Encarte da caixa “10 Anni Alive” (traduzido por Tatsurou Ueda e A.S.);
ARTHUR MANTOVARI – Rock Progressivo – Ed.Papirus 1985



Fonte :(publicado originalmente no site Baguete)


Progbrasil