O chamado (e muitas vezes odiado) Rock Progressivo, buscou fazer a fusão do rock com o clássico. Muita coisa já foi escrita sobre ele e (como toda música) tem ferrenhos defensores. Confesso que pelos anos 70 ele me agradava mais do que os outros estilos do rock.
Haviam aquelas bandas ditas sinfônicas (geralmente inglesas) como EMERSON LAKE & PALMER e RENAISSANCE, as mais “camerísticas” (geralmente italianas) como PREMIATA FORNERIA MARCONI e LE ORME, dentre muitas. Os americanos não foram muito felizes nessa fusão e a DIXIE DREGS do Steve Morse, foi capaz de misturar rock, clássico e country em uma salada coesa.
Bandas como GENTLE GIANT, conseguiam a proeza de transformar-se em um conjunto barroco em pleno concerto. Por sinal, GG era contemporânea da GENESIS (ainda com Peter Gabriel) e havia uma (as vezes não tanto) “amistosa” rivalidade entre elas pelo público, mas eram de estilos bem diferentes. O GENESIS tinha o seu lado “clacioso” na figura do tecladista Tony Banks e também no violão de Steve Hacket. A flauta de PG era fazia um contraste suave quando entrava, bem diferente do Progressivo-Folk do JETHRO TULL, onde a flauta de Ian Anderson soava agressiva como uma guitarra (meio exagerado mas IA gostaria desse comentário). Enquanto isso, no GG, todos os músicos tinham formação clássica, mas era uma banda que se escorava nas alucinadas divisões do tecladista KERRY MINNEAR, que você pode ouvir no áudio dessa semana, que é um trecho extraído de SCHOOLDAYS, do álbum THREE FRIENDS (COLUMBIA – 1972), primeiro álbum deles.
Uma das críticas ao rock progressivo, era dele ser por demais estruturado, abandonando o lado mais “puro” rock. Claro que esse comentário é terrível, por que se não ousarmos, não avançaremos. Isso também vale para nossas vidas, Se não arriscarmos, não chegaremos a lugar nenhum. Uma amiga outro dia falou que não gostava de correr riscos. Nem retruquei, mas fiquei pensando se ela não corria riscos ao sair de casa, atravessar uma rua, abrir a bolsa prá pagar alguma coisa. Estamos correndo riscos todo dia, a todo momento. Até o ar hoje (nas grandes cidades) já não é muito confiável. Isso par não falarmos do stress que tornou-se preocupação de saúde público nesse mundo moderno e conturbado.
O rock progressivo tinha (e tem) momentos de profundo lirismo. Não era algo de “laboratório” como as pessoas costumavam falar. Me lembro agora, que esse mesmo comentário era feito sobre as músicas dos festivais. De Tom e Chico a Gonzaguinha, todos foram acusados de fazer uma música cerebral desprovida de emoção.
Será que quem disse isso hoje aprova o que toca nas rádios?
Será que o autor dessa frase acha que todos os grupos de pagode, muitas vezes liderados pelo mesmo empresário são espontâneos?
Isso me leva a um grupo progressivo, muito falado, bastante conhecido mas pouco enquadrado como tal: BEATTLES. Os cinco caras (George Martin sem dúvida era um integrante importante da banda) tornava-se cada vez mais progressista até que se separou. SARGEANT PEPPER’S é um trabalho progressivo, que influenciou muitas bandas pelo mundo afora, mas com a diferença que é possível tocar as músicas deles sem ser-se um virtuoso.
E aí a outra crítica. Diziam que os músicos progressivos só queriam se exibir. Músico é artista. Artista TEM QUE exibir sua arte. Seja uma CARLA PEREZ ou um KEITH EMERSON, ambos querem mostrar o que tem de valor. Ela com sua dança (prá não me acusarem de ser chauvinista) ele com sua técnica. Quanto mais se exibem, mais nós o público temos a ganhar. Como eu já disse antes e não vou me cansar de repetir: “Gosto não se discute, lamenta-se!”.
Acho que é preciso se ouvir de tudo para que possamos ter um conhecimento maior. É como ler. Quanto mais lemos, mais aprendemos e mais temos condição de discernir sobre alguma coisa. Infelizmente (para ambos) cultua-se a leitura como algo (até mesmo) pejorativo de intelectual e à música como uma arte fácil. Ambas são arte e como tal podem ou não ser pejorativamente chamadas do que quisermos (depende muito do humor do crítico), podem ou não agradar. O que importa?
Quanto à carta do José, a única coisa de que discordo é quando ele diz que o Queen sofisticou o clássico. A meu ver o grupo do Freddie pode ter é colaborado na disseminação do clássico, assim como fizeram todas as bandas dos anos 70. Afinal de contas, fui não só ouvir, mas também passar a aceitar com outros olhos (ou seriam ouvidos?) os clássicos, graças a esses músicos maravilhosos e seus “empréstimos” aos compositores eruditos.