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O Lado Escuro da Lua (2006-10-27)

Amyr Cantusio Jr


Entre 1967 e 1968 ,surge patrocinado pelos estudios Abbey Road (Beatles)mais um fenômeno do rock,que seria talvez,a maior odisséia que este estilo já presenciou nas praias do experimentalismo desta era psicodélica e metafísica.
Pink Floyd, a banda do extinto guitarrista,mentor e letrista Syd Barret,que agora,espero,esteja vagando pelas galáxias com seu espirito,no grande Sonho Cósmico das existências.
Seria injusto neste ano de sua morte(2006) que eu,como músico e amante da música magnífica do Floyd,não fizesse este pequeno artigo em justa homenagem aos mesmos,e aos leitores que me escrevem constantemente pedindo uma matéria com os mesmos!
Com o primeiro álbum,aliás maravilhoso para a época, The Piper at the Gates of Dawn,o grupo se lança dentro do conturbado e criativo cenário musical da época pré -Woodstock e no fim da era Beatles.
Este disco foi inspirado no livro favorito de Barret (The Wind in the Willows) do escritor Kenneth Graeme.
Para se ter uma idéia da importância deste LP,os Beatles estavam gravando Sgt.Peppers no mesmo estúdio,e,de vez em quando,iam até o setor onde o Floyd estava registrando a obra pra curtir um som e fumar um baseado juntos!!
Principalmente Lennon e McCartney,que sempre tiveram uma relação musical abrangente com todos os setores culturais da época.
Este disco foi um marco da psicodelia mundial,e seguiu-se após ele,o não menos belo A Saucerful of Secrets.
Uma apoteóse com climas sombrios e egipcios como na maravilhosa música de Roger Waters (Set the controls for the heart of the sun).
O Floyd já se destacava então pelo som mais viajante e espacial,o que chamou a atenção da área cinematográfica para trilhas sonoras,como os dois lindos discos da banda,"More" e "Obscured by Clouds".
Mas,a vida tem seus custos,e Barret começa a pirar por causa das drogas,e é retirado do palco chapado,pra nunca mais voltar a banda.
Em seu lugar é recrutado o grande guitarrista e vocalista David Gilmour.
A partir de então tem inicio a maior viagem do progressivo,com Roger Waters assumindo praticamente a direção do grupo e criando as maiores e mais destacadas composições de todos os tempos.
Nesta época,o Floyd era denominado pela crítica de Acid Rock pela lisergia e chapadice de seus membros (que realmente viviam ligadões no LSD e cogumelos).
Vão para Pompéia,em meio aos vulcões (Italia)pra fazer o que nunca jamais seria visto novamente na história do rock,gravar o Live At Pompeil de onde surgiram 2 dos melhores e mais famosos álbuns do grupo:
Dark Side of the Moon e Meddle (este gravado em 1971),com sua honorável marca registrada viajante consagrada e sacramentada na derradeira faixa "Echoes" de 24 minutos!.
Aliás Echoes é o centro do vídeo relançado recentemente como Live at Pompeil II(edição do Diretor) e,assistindo-se atentamente,vê-se Waters já rabiscando no mini-moog trechos essênciais de Dark Side of the Moon.
Não pretendo dar uma cronografia completa aqui,mas citar momentos grandiosos do Floyd.
Não posso deixar de citar o esplêndido álbum duplo Ummagumma,que realmente só vai fazer a cabeça dos fissurados por experimentalismos extremos,devido a assimetria absoluta das faixas.
E o lindo e sinfônico Atom Heart Mother (que saiu em 1970) com o engenheiro e maestro Alan Parsons fazendo os belíssimos arranjos de cordas,orquestra e coral!
Mas ainda aparecem" Wish you were here" (1975)que seria o legado póstumo a Syd Barret,um album maravilhoso,melódico e sensível.
Segue-se ainda em 1977 outra obra animal (literalmente inspirado na Revolução dos Bichos) que é um disco que me marcou muitíssimo na época.
Pigs começa com um ógão e teclados incríveis,que já lançam sua cabeça para o espaço.Dogs é viagem absoluta garantida!!
Enfim,mais uma das grandes obras primas deixadas pela banda ao longo de uma década de sucessos absolutos e obras indiscutíveis de grande beleza artística musical.
Mas o Floyd vai deixar sua marca profunda,numa última cassetada contra o sistema vigente,com o álbum duplo The Wall.
Roger Waters brilha aqui com toda sua criatividade e força nos vocais, nas composições,nas letras e na ideologia revolucionária,de onde é extraído o fantástico e controvertido filme The Wall.
Talvez no auge e no marco derradeiro da loucura pós Barret, Waters acaba se desentendendo com o grupo,e deixa a banda após a saída do álbum Final Cut,o último com sua presença nas rédeas do Floyd.
Um álbum que considero fraco diante das tão volumosas e maravilhosas obras anteriores.
Daí seguem os membros do Floyd aleijados, para um Floyd não tão substancial e sensível,mas bom e audível.
E Waters vai para uma carreira solo muito gratificante,com ótimos álbuns solos,dos quais indico aqui a obra prima, Amused to Death.
A tentativa frustrada de se reunir o grupo jamais se concretizaria,deixando somente a bela obra para o nosso deleite,de uma grande época para o rock,para a música e para a posteridade se inspirar.E para os loucos,pois somente eles vêem o lado escuro da Lua...(R.Waters)


Fonte :(originalmente publicado na Coluna Universom da revista mensal Valhala, devidamente autorizado pelo autor)


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