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Affinity

Inglaterra




Titulo: Affinity
Ano de Lançamento: 1970
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 26/09/08 Nota: 9.5

 

Obra-prima, irretocável

Obra-prima, irretocável.

O trabalho homônimo do grupo Affinity foi como um raio que cruzou os
anos setenta e por lá ficou escondido durante muitos anos, até a sua
redescoberta no início da década com lançamentos pelos selos Repertoire
e Angel Air, diga-se de passagem edições com excelente qualidade de
gravação e produção caprichada, mitigando por completo o venial
descuido com relação a esse esquecimento.

A banda tomou forma em meados da década de sessenta através de uma
pequena reunião de três músicos universitários de jazz: o pianista
Lynton Naiff, baterista Grant Serpell e Mo Foster no baixo. Após
inúmeros testes e audições para a escolha de um guitarrista, ficaram
satisfeitos com o magistral desempenho de Mike Joop (ex Tridents), bom
músico de jazz e blues, também possuía seus próprios amplificadores,
além de um carro para transportar os equipamentos do grupo. Por fim,
uma típica professora de língua inglesa, franzina e meio sem sal, com
poucas referências fora apresentada por um antigo companheiro de
faculdade para fazer um teste. Surpresa geral, a moça arrasou com sua
potente voz rouca e rascante, criando uma baita sinergia com a
sonoridade que estava sendo desenvolvida pela banda, a professora era
um prodígio, atendendo pelo nome de Linda Doyle e assumindo de imediato
o posto de vocalista do grupo.

Com a formação estabelecida, faltava um nome, assim sendo, o termo
Affinity foi retirado de um LP de Oscar Peterson e o grupo lançou seu
primeiro e único álbum, de mesmo nome, em 1970. O mesmo foi recebido
com muitas críticas elogiosas, fazendo a cabeça de muita gente com sua
sonoridade híbrida de jazz, blues, hard, folk e progressivo,
imediatamente entrando para a galeria de artistas como Miles Davis,
Brian Auger, Jimi Hendrix e bandas como Led Zeppelin, Colosseum e Yes.
Linda Hoyle passou a ter o status de uma diva do rock, muitos a
reverenciavam com grande efusão, até porque no mesmo ano o rock havia
perdido para sempre sua estrela maior - Janis Joplin.

O disco inicia com um petardo, um autêntico cartão de visitas, "I Am And
So Are You", onde toda a profusão sonora do grupo atinge um nível de
força impressionante num mix de hard e blues pra não se botar defeito,
o riff introdutório de guitarra combinando com o sax é a deixa perfeita
para os vocais de Linda. Dois aspectos são bem interessantes e muito
sutis, o primeiro é que apesar da atmosfera sonora ser distinta do Yes,
em meados da música o timbre da Linda, bem como a cozinha lembra muito a
fase Yes do "Time And A Word", para conferir basta ouvir músicas como
"Astral Traveller" e "Then". O outro aspecto é o solo final de guitarra
na linha Hendrix, rasgando geral com peso e categoria em doses exatas.
Difícil não se empolgar logo de imediato com essa música introdutória
que em apenas três minutos é capaz de agradar a qualquer um que curta
um autêntico rock and roll.

Em seguida rola "Night Flight", o que na minha opinião é uma das
melhores músicas do álbum, ao lado da versão alucinante de "All Along
The Watchtower". A suavidade dos violões no início da música dá um
toque folk em complemento ao vocais que geram uma atmosfera onírica até
a chegada das guitarras. Após a introdução temos um trecho instrumental
com uma performance exuberante do hammond, extremamente bem executada
por Lynton Naiff que definitivamente mostra ser um músico diferenciado,
capaz de improvisar o tempo inteiro sem perder o andamento lógico das
composições, sem exageros, num espírito de jam e psicodelismo até
desembocar novamente no fraseado inicial conduzido pelas guitarras e
baixo.

"I Wonder If I'll Care As Much" é a típica balada que rolava no fim dos
anos sessenta, com pequenos toques psicodélicos e sem muitos atrativos
instrumentais, aqui percebe-se resquícios da influência dos Beatles,
essa é aquela música para dar uma pausa nos ouvidos, beber uma água que
depois surge outra balada, mas essa com a marca registrada do Affinity,
trata-se da cativante "Mr Joy", aqui os vocais de Linda Hoyle são
instigantes, levando-nos à excitação completa e a cozinha conduz o
ritmo com leveza e categoria, destaque para a linha de baixo e a
quebrada da batera que vira o tempo inteiro, mas no tom do jazz, sem
esmurrar as caixas.

"Three Sisters" possui o solo de guitarra mais longo de todo o álbum e
que solo, definitivamente arrebatador, acompanhado ao fundo por
hammond, tecladeira e metais, o outro show fica por conta mais uma vez
dos vocais. "Coconut Grove" faz a transição num anticlímax muito
agradável, em que a bateria, teclados e baixo descansam, deixando a
condução apenas com um belo dedilhado de violão com a voz de Linda em
primeiro plano, numa linha bem blues, porém os toques psicodélicos e
progressivos chegam junto com o hammond que é matador.

O melhor desse disco o grupo deixou para o final, numa versão longa e
surpreendente de um nit de Bob Dylan - "All Along The Watchtower". O
set instrumental com Naiff solando o hammond sem dó é incrível, altos
improvisos, porém com muito ritmo e melodia. O clima de jam fica ainda
mais latente pela linha de baixo totalmente quebrada, viradas
desvairadas da bateria culminando num ápice matador que desemboca nos
acordes iniciais, a essa altura já esquecidos, diante de tantas
passagens memoráveis, então Linda enuncia "Outside in the distance a
wildcat did growllllllllllll" e o verdadeiro espírito do rock do fim
dos anos sessenta está consumado, até porque é difícil encontrarmos um
grupo que tenha incorporado tão perfeitamente essa transição,
utilizando o clima ingênuo do rock dos anos sessenta, com artíficios
elaborados e complexos do hard, jazz e blues, sendo a presença dos
teclados responsável pelo andamento progressivo dos temas, algo que
estava começando a ser estabelecido para as décadas seguintes através
de obras conceituais e a formulação das grandes suítes que começaram a
ter consistência a partir de 69.

O que fica após a audição desse disco é de fato a sensação da alma
lavada, destaque também para a capa que apresenta bem o clima de
liberdade, cores e visual psicodélico que tomaria conta de vez da
geração Woodstock. A edição da Angel Air traz oito bônus que para
muitos superam até mesmo o trabalho original, devido a músicas do porte
de "Eli's Coming", a excelente versão de "I Am The Warlus" e sobretudo
pela antológica "Yes Man".
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